Aqui temos a adoração a Deus como ato primário. Até então tínhamos idéia, como também não ficou claro nos textos anteriores, o indicativo de que o ritual tivesse sido estabelecido por Deus; sobretudo percebemos que sim. Os versículos 3 ao 5 ־ descrevem os primeiros atos de adoração na Bíblia e a resposta de Deus a eles.
Apesar de termos um texto bem autentico, bem direto, precisamos tomar cuidado, pois para compreendê-lo, deve- -se ler com cuidado e considerar esses três versículos como uma só unidade. Já de início, percebemos que o autor demonstra que a adoração representa uma atitude natural dos homens.
Quando Eva atribuiu um nome a Caim, ela mencionou Yahweh; podemos assumir que os pais já haviam ensinado aos filhos a adoração a Yahweh. Entretanto, esse evento é pré-mosaico, e o autor não mencionou práticas de adoração. Qualquer conceito além do fato de que Caim e Abel trouxeram ofertas para Yahweh, seria pura especulação.
O interesse do autor não se encontra nas ofertas em si, mas na resposta de Deus. Também não temos idéia de tempo, apesar de termos o indicativo no versículo. A primeira oração, passado algum tempo (v. 3) (lit., e ocorreu no final de alguns dias), enfatiza um período indeterminado; o tempo em que os dois filhos se ocuparam de seu trabalho antes de trazerem as ofertas, deliberadamente não é revelado.
Caim trouxe do fruto da terra, uma oferta a Yahweh (v. 3), ou seja, das plantações que havia colhido. A oferta de Abel foi do primogênito de seu rebanho, até mesmo das porções mais gordas (v. 4a). O contínuo quiasma requer novamente uma reversão dos elementos, e suas duas últimas linhas também apresentam um quiasma (AB:BA’): Yahweh demonstrou reconhecimento por Abel e sua oferta, mas quanto a Caim e sua oferta, ele [Yahweh] não demonstrou consideração (v. 4b-5a).
O autor não comenta explicitamente por que Deus aceitou a oferta de Abel, mas não a de Caim. Alguns especulam que talvez o problema de Caim fosse trazer ofertas em produtos, ao invés de animais - somente animais seriam aceitáveis para Deus. Esse ponto de vista não parece coerente; pelo contrario, mais tarde foram estabelecidas ofertas advindas do campo, como elementos de culto a Deus. LV 2.1-16. Pessoalmente tenho sugerido que qualquer que seja a oferta das mãos deve ser amparada com a vida.
A adoração dos irmãos ocorreu bem antes das instruções de adoração dadas a Moisés para Israel; as exigências daquele sistema não tinham relação alguma com o que Caim e Abel trouxeram ou não. O autor deixou implícita a diferença entre ambas as ofertas, quando enfatizou o cuidado de Abel em escolher as porções mais gordas, e não fez menção à oferta de Caim. Abel havia preparado tudo com propósito e cuidado; a oferta de Caim foi casual e não intencional. O silêncio do autor em si não é prova dessa ideia, mas a inferência presente é plausível.