5 Na verdade, Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.

Com a intenção de alegar que Deus escondia a verdade dos hu- manos, a serpente se apresentou como “aquela que diz a verdade” (Fretheim, 1994, p. 361). O texto em hebraico diz: no dia em que dele comerem, trata-se das mesmas palavras proferidas por Deus em Gn 2.17 (exceto pela mudança do verbo do singular para o plural). A afirmação: seus olhos se abrirão era verdadeira.

Em um sentido bem limitado, podemos alegar que a segunda afirmação também é verdadeira. Se comessem do fruto proibido, eles realmente se torna- riam como Deus, conhecedores do bem e do mal. No entanto, a serpente não disse toda a verdade e, na terrível distorção de suas palavras, transformou em mentira essa nova “verdade”.

Deus, o homem e o Mal

Deus conhece o bem interior (“empiricamente”) e externo (“objetivamente”). O primeiro casal conhecia o bem empiricamente; quando sucumbiram, acabaram por conhecê-lo objetivamente, em seu recém revelado contraste com o mal.

Deus conhece o mal externa e objetivamente, mas não empiricamente. Quando comeu do fruto, o casal passou a conhecer o mal empiricamente, mas, ainda assim, com uma deplorável distorção, e bem menos do que Deus o conhece “objetivamente”, de sua perspectiva exterior.

A suposta e prometida abertura de seus olhos se deu de forma totalmente oposta ao que haviam imaginado. A serpente conseguiu substituir a preocupação com a morte pela promessa de que se tornariam como Deus.

Ambrósio comenta Gn 3.1-5:

A razão da inveja era a felicidade do homem no paraíso, porque 0 diabo não podia desfrutar os favores que o homem recebia. Sua inveja foi incitada porque o homem, embora formado do barro, fora escolhido para ser um habitante do paraíso. O diabo começou a refletir sobre o fato de que o homem era uma criatura inferior, e ainda assim tinha esperança de vida eterna, enquanto ele, uma criatura de natureza superior, havia caído e se tornado parte dessa existência mundana (Louth, 2001, p. 76).