O verbo construiu (bãnâ) chama muito a atenção, pois o termo anterior empregado havia sido “formou”, para ilustrar a criação do primeiro ’ãdãm (v. 7) e dos animais (v. 19).
Comentaristas e versões em português geralmente omitem (ou amenizam?) esse fato, optando pela tradução do termo por fez, em vez de construiu. O autor deliberadamente escolheu esse verbo para ilustrar o modo atencioso e carinhoso com que Deus formou o primeiro ’ãdãm e a mulher ( ’isso).
Deus, o construtor divino, cria os homens como um oleiro faz seu trabalho. Percebemos a intenção do autor em ressaltar essa ideia, por meio do paralelismo entre duas narrativas sobre a criação divina:
- v.7: E formou/YahwehElohim/o 'ãdãml[do]ρό/da terra.
- v. 22: E construiu/Yahweh Elohim/o lado/do ’ãdãm/em uma mulher ïssa").
O homem foi formado da terra, e a mulher, do homem. Desse modo, sendo formada a partir da costela do homem, a mulher também estava ligada à terra. Nem homem nem mulher poderiam alegar independência de uma autocriação. Todos os homens são iguais devido à nossa origem comum, em que uma só carne se torna duas e novamente uma para formar um novo ser humano, por meio da procriação.
Von Rad relata o ato com um tom romântico no fim do v.22:
“Agora o próprio Deus, como o pai da noiva, leva a mulher até o homem” (1961, p. 82).
Assim procedendo, o Todo-poderoso concedeu uma dádiva a cada um deles, a companhia humana e a intimidade física, para cumprir o propósito da criação do homem e da mulher. Essa simples frase demonstra o grande prazer que o Senhor sentiu em presenteá-los dessa forma.