Crisóstomo comenta Gn 2.21:
"Deus fez com que uma sonolência caísse sobre Adão", diz o texto, "e ele dormiu". Porém, ele não fora acometido por uma sonolência comum; na verdade, o habilidoso e sábio Criador de nossa natureza iria remover uma das costelas de Adão. A fim de que ele não se revoltasse contra a criatura que seria formada a partir de sua costela, e talvez devido à dor que podería sentir, Deus induziu Adão a um sono profundo, como se houvesse um grande peso sobre ele (Louth, 2001, p. 67).
Asegunda metade do v.21 relata a segunda ação divina: Então ele [Yahweh Elohim] tomou um dos seus lados [ou uma de suas costelas] e [Deus] fechou lugar com carne. Das 40 vezes que o substantivo §êlã' aparece na Bíblia hebraica, essa passagem é a única traduzida por costela, na maioria das versões.
A prudência exegética requer, pois, que analisemos uma vez mais essa ocorrência em seu contexto. Na verdade, muitos comentaristas bíblicos observaram que inúmeras vezes esse substantivo se refere às paredes ou lados: no tabernáculo no deserto (Êx 26.20,26,27; 36.25,31,32); na arca da aliança (Êx 25.12,14; 37.3,5); no templo de Salomão em Jerusalém (1 Rs 6—7); e paredes da reconstrução do templo na visão de Ezequiel, onde a maioria entende que Ezequiel estava falando sobre “câmaras laterais”, construídas opostas às paredes do novo templo (Ez 41). Em 2 Sm 16.13, sêlã' se refere ao “lado” ou à inclinação de uma montanha.
A LXX reforça essa ideia, traduzindo pelo menos metade dessas ocorrências, incluindo as duas em Gn 2.21,22, por pleuron/pleura, ou seja, “lado”. Tendo em mente que o homem reconhecería a mulher como “osso do meu osso” e também como “carne de minha carne” (v. 23), devemos aceitar o termo “lado” como o mais adequado para esse caso.