Façamos. O “haja” impessoal (ou seus equivalentes) dos sete atos criativos anteriores é substituído pelo “façamos” pessoal. Somente na criação da humanidade é anunciada de antemão a intenção divina. A fórmula “e assim se fez” é substituída por uma bênção tríplice. Nestas formas, o narrador põe a humanidade mais perto de Deus do que o restante da criação.
Ver também 3.22; 11.7. Têm-se sugerido várias referências para o “nós”. A interpretação cristã tradicional que representa uma pluralidade dentro da deidade conta com algum endosso textual e satisfaz a teologia cristã da Trindade (Jo 1.3; Ef 3.9; Cl 1.16; Hb 1.2).
Que Deus é uma pluralidade, é corroborado pela menção do Espírito de Deus em 1.2, e o fato de que a própria imagem é uma pluralidade. Esta interpretação também explicaria as nuanças no texto entre o singular e o plural. A dificuldade primária com esse ponto de vista é que os outros quatro usos do pronome plural com referência a Deus (3.22; 11.7; Is 6.8) não parecem referir-se à Trindade.
Sendo assim, os que não acreditam da expressão façamos como uso relacionado a Trindade creem que todos esses usos do pronome é que Deus está se dirigindo aos anjos ou à corte celestial (cf. 1Rs 22.19-22; Jó 1.6; 2.1; 38.7; Sl 29.1-3; 89.5, 6; Is 6.8; 40.1-6; Dn 10.12, 13; Lc 2.8-14). O texto original diz :
וַיֹּאמֶר VAYOMER E disse אֱלֹהִים ELOHYM Deus: נַעֲשֶׂה NAASEH Façamos אָדָם ÅDÅM o homem בְּצַלְמֵנוּ BËTSALËMENU à nossa imagem, כִּדְמוּתֵנוּ KIDËMUTENU conforme à nossa semelhança;
Esta passagem destaca dois fatos importantes. O homem compartilha sua natureza tanto com os animais quanto com Deus. Ele foi criado no mesmo dia em que os animais de ordem mais elevada foram formados, e, desta forma, está aparentado com eles, mas ele também possui a imagem de Deus. Esta imagem de Deus no homem é característica de todos os homens, mas não dos animais.
Mais uma vez, a repetição múltipla - cinco vezes nesses dois versículos - da observação conforme o seu tipo funciona como um lembrete enfático de que, enquanto Deus é soberano, não é totalitarista em seu governo, mesmo em relação às criaturas que não lhe refletem a imagem, como o fazem os humanos.
Deus projetou, formou e deu vida a miríades de espécies, mas dotou-as de poderes procriadores, trazendo-as a uma parceria consigo na existência em curso da sua boa criação.
A expressão repetida conforme o seu tipo também enfatiza a importância da ordem raciocinada e razoável que Deus estabeleceu na e para a criação. É possível ver, aqui, uma fundamentação para o ensino bíblico subsequente sobre a ordem da(s) relação(ões) divina(s) inerente(s) à realidade e à experiência da santidade.
Embora possamos caracterizar essa ideia como uma interpretação “tipológica”, a repetição da frase indica que essa era uma preocupação legítima do narrador. Notamos essa ênfase sem pedir-lhe que suporte mais peso teológico do que o pretendido pelo autor; isso é uma reflexão, não um dogma.