2 A terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.

A criação foi um ato que só Deus podia executar, e, se o abismo reagiu a cada palavra de Deus, por que teria ele que ficar preo­cupado a respeito de como ele veio a existir? Os hebreus preferiam fé à espe­culação filosófica. A sua fé certamente não é contraditada pelo pensamento filo­sófico sadio, mas eles manifestavam a tendência de ir até o cerne do problema da fé.

O verbo בָּרָא bara é uma forma masculina no singular. O sujeito que o governa, Deus (’Elohim), está no masculino plu­ ral. Deus é considerado como sendo, em certo sentido, tanto singular como plu­ ral. Há várias explicações para o fato de ’Elohim estar no plural. Alguns di­ zem que esta palavra retém algo de seus antecedentes politeístas.

Embora ’Elo­ him geralmente use um verbo no singular, quando é usado em relação aos deuses pagãos esta palavra rege um verbo no plural. O singular e constantemente usa­ do quando o Deus de Israel é o seu sujeito. Contudo, o verbo no plural é usado a respeito do Deus de Israel em 1:26: “Façamos o homem.”

Ouutros consideram-na como um plural de ma­jestade. Freqüentemente os hebreus pluralizavam um substantivo, para enfatizar a sua importância ou magnificência. Isto certamente seria apropriado em relação a Deus. Alguns dizem que ela fala da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

O Espírito (ruach) de Deus pode ser interpretado como o “vento de Deus” ou “vento poderoso” , e, provavelmente, é um quadro de um forte vento, como o de um furacão. agitando frementemente o abismo caótico. O versículo 2, portanto, não é uma descrição de Deus pairando sobre o abismo como um pássaro, ou flutuando sobre ele, a fim de impregná-lo.

Os atos criativos que interessam ao escritor começam com a palavra de Deus no versículo 3. O versículo 2 coloca a terrível confusão do abismo tenebroso em contraste com a condição ordenada que resultou do “haja” de Deus, que se se­gue.