a serpente. No antigo Oriente Próximo, em contextos variados, as serpentes são símbolos de proteção (uraeus egípcia) do mal (veneno mortífero [apopis egípcia]), da fecundidade (deusa cananita da fertilidade), ou da vida contínua (renovação da pele) (cf. Jó 26.12, 13; Is 27.1).
Aqui a serpente é um símbolo de anti deus. Embora aqui não tenha nome, ela é o adversário de Deus e da humanidade, chamado Satanás (hebraico êãtãn [“adversário, perseguidor ou acusador”]), no Antigo Testamento, e diabo (diabolos, o equivalente grego), no Novo Testamento.
Sua origem é do céu, externa à ordem natural da terra. Ele é malevolente e mais sábio que os humanos, mantendo-os sob seu domínio. Ele conhece os assuntos divinos (3.5) e usa o diálogo para introduzir confusão.
astuta [ãrum]. O jogo de palavras “despido” e “sagaz” (ãrâm em 2.25 e 3.1) liga as duas cenas e chama a atenção para a dolorosa vulnerabilidade de Adão e Eva. A astúcia de Satanás é vista em sua ardilosa distorção das palavras de Deus. Com aparência sutil, o adversário fala como um teólogo angélico cativante.
Adam Clarke usou uma metodologia interessantíssima para atribuir uma identidade ao termo nãhãã, geralmente traduzido por "serpente". Clarke acreditava que o texto retrata uma criatura viva, real. Ele também percebeu que algumas referências bíblicas mencionavam criaturas que, naqueles contextos, certamente não poderíam ter sido cobras. Conforme Clarke, as letras nfis possuem quatro raízes diferentes em hebraico.
Às vezes fazem referência ao bronze ou cobre; em outros casos, referem-se à adivinhação ou a outros aspectos de cultos religiosos; uma de suas formas pode até mesmo significar "lascívia" ou "prostituição".
Clarke implícitamente observou que nenhum desses significados atribuídos a essa raiz podería referir-se à aparência ou ao comportamento da cobra; com isso, ele deduziu que a imagem de “serpente" ou "cobra" foi provavelmente elaborada por influência do grego da Septuaginta, cujos tradutores não deram devida importância ao tema.
Influenciado em parte por uma provável relação etimológica com o substantivo árabe para "macaco", Clarke argumentou que o termo nãhãè estava relacionado ao orangotango, o primata mais próximo do ser humano. Um dos primeiros exegetas do Metodismo também concordou com esse ponto de vista, ainda que não seja o comumente aceito; portanto, sabemos que não há evidências concretas sobre a identificação dessa criatura com qualquer animal conhecido atualmente (n.d., p. 47-50).
ela perguntou. Deus mune a humanidade de linguagem para subjugar a terra, para trazer tudo sob seu domínio. A serpente perverte a linguagem, usando-a para trazer confusão e atrair Adão e Eva ao seu controle.
Severiano de Gabala comenta Gn 3.1
Por ser uma criatura com tamanha semelhança ao homem, a cobra era um instrumento conveniente para 0 diabo... Então, o diabo falou por meio da cobra para enganar Adão... Antes da queda, Adão era cheio de sabedoria, discernimento e profecia... Quando o diabo percebeu a inteligência da cobra e o quanto Adão a admirava (Adão considerava a cobra muito esperta), ele falou por meio da cobra para que Adão pensasse que ela, em sua inteligência, fosse capaz de imitar até mesmo a fala humana (Louth, 2001, p. 75).