A causa da epístola é manifesta pelo seu conteúdo. As igrejas da Galácia constavam, em parte, de judeus convertidos - mas é provável que na sua maioria fossem formadas de gentios, que tinham abraçado o Cristianismo (4.8), e que, segundo parece, tinham bastantes luzes do Antigo Testamento (*veja 4.21 a 31). Eles receberam logo o Evangelho com prontidão e alegria, e por certo espaço de tempo perseveraram fielmente nas doutrinas apostólicas (5.7). Mas não muito depois da segunda visita do Apóstolo às igrejas da Galácia, alguns mestres judaizantes (provavelmente emissários do partido fariseu em Jerusalém: *veja At 15.1,2) visitaram as igrejas da Galácia, e ensinavam que os gentios convertidos deviam submeter-se à circuncisão, e observar o ritual mosaico para se salvarem. A própria autoridade de Paulo foi por esses atacada, julgando-a inferior à de Pedro e à dos outros apóstolos, a quem, segundo as suas afirmações, eles seguiam (caps. 1 a 2). Além disso, acusavam-no de não ser correto, visto como, observando ele próprio a lei enquanto se achava entre os judeus, persuadia aos gentios que a ela renunciassem (5.11). E apresentadas assim as coisas, conseguiram espalhar a semente da discórdia e da divisão (5.15), desviando do caminho direito muitos cristãos da Galácia (1.6 - 3.1 - 4.9), que receberam as idéias dos seus novos doutrinadores, com o mesmo zelo queem outros tempos tinham mostrado, quando ouviram as pregações do seu pai espiritual Contra estes erros Paulo já tinha protestado pessoalmente (1.9 - 4.16) - mas sabendo que eles estavam ganhando rapidamente terreno, escreveu esta epístola. Esta epístola, pelo seu objetivo, pela maneira abrupta e severa como principia, e pelas enérgicas e ternas acusações que encerra, mostra quão grande era a preocupação do Apóstolo a respeito das perigosas doutrinas que era urgente combater. o seu principal fim era provar que os judaizantes, com os seus erros doutrinários, não faziam mais que destruir a própria vida e alma do Cristianismo - e então prepara o caminho para a demonstração, rebatendo as falsidades que os adversários tinham propagado a seu respeito, e com energia sustentando a sua missão e autoridade apostólicas. o principal contraste entre o método desta epístola e o da epístola aos Romanos é que o grande tópico de justificação faz parte, nesta epístola, de um particularizado argumento, sem referência a quaisquer circunstâncias especiais - ao passo que na dirigida aos Gálatas tudo é tratado em controvérsia, com claras referências aos mestres judaizantes. o Apóstolo não está aqui formando argumentos contra os gentios, que consideravam as boas obras como um direito à recompensa divina, nem contra os judeus incrédulos que rejeitavam o Cristianismo, persistindo na sua obediência à Lei como único caminho de justificação - toda a sua argumentação era contra aqueles judeus que, fazendo profissão de ter abraçado o Evangelho, ensinavam, contudo, que não só a fé em Cristo, mas também a observância da lei cerimonial eram necessárias para a salvação. E então ele demonstra que essa lei nunca fora designada para esse fim, que estava já ab-rogada, e que aqueles que observavam as suas determinações com o fim de assegurar o favor de Deus estavam, por esse fato, abandonando o único caminho da salvação. os erros que ele considerava como subversivos do Evangelho tinham sido propagados por homens que professavam o Cristianismo sem compreender os seus essenciais princípios - e a esses mestres ‘nem ainda por uma hora’ queria estar em sujeição. os mal compreendidos preceitos da lei mosaica, que Paulo apresenta nos caps. 14 a 15 da epístola aos Romanos, como assuntos próprios da tolerância da parte dos que estavam mais bem informados, são os daqueles cristãos, sinceros, mas não inteiramente esclarecidos, que na verdade viam a sua salvação somente em Jesus Cristo, mas ainda não estavam satisfeitos com respeito à abolição do ritual judaico. A epistola acha-se naturalmente dividida em três partes, compreendendo cada uma delas dois capítulos. As duas primeiras divisões são principalmente de controvérsia, e a terceira consta de doutrinas práticas e exortativas. i. Paulo afirma e prova a sua chamada divina, e a sua autoridade como apóstolo de Jesus Cristo (1, 2). ii. Estabelece o seu principal argumento, que a nossa justificação é inteiramente pela fé, e não pelas obras da lei (3, 4). iii. Conclui com certos conselhos e direções práticas, e faz um resumo dos principais tópicos da epístola (5, 6).