Qual o significado de Cabelo na Bíblia?
Os cabelos é um tema bem discutido nas religiões de origens semitas; se em algum momento os aspectos culturais de um povo suplanta os pressupostos doutrinários e gera intermináveis debates, o cabelo figura entre os temas de maior debates.
Antes de qualquer coisa, precisamos entender as varias palavras usadas para descrever os cabelos na Bíblia. Temos o termo galash גלש, este usado para referir ao cabelo de uma mulher; mas nesse caso - como símile - uma vez que essa raiz pode ser associada a um rebanho de cabras.
Parece que o termo mais usado é o dallah דלה e, sim, nesse caso, referindo-se a cabelo, fios, fio grosso. Fora essa, para cada expressão relativo aos "cabelos", temos um termo especifico, tal como machlaphah מחלפה, expressão usada para: "trança de cabelo" ou "cacho".
O termo κομη kome é a palavra grega para “cabeleira”. Palavra foi usada ao menos por 27 vezes no N.T, tal como podemos encontra-la nas seguintes referencias: Mt 9:35; 10:11; Mc 6:6,36; Lc 5:17; Jo 11:1; At 8:25.
Como eram os cabelos das mulheres na Bíblia?
As mulheres hebréias usavam o cabelo comprido e separavam-no em certo número de tranças, que eram depois entrelaçadas juntamente. o cabelo preto, entre os israelitas, era considerado como o mais belo (Ct 5:11).
Os hebreus usavam o cabelo natural com certo arranjo, mas não cortado. Que as israelitas tinham bastante trabalho para dar realce à sua natural beleza, depreende-se de muitas passagens da Escritura, tais as que podemos ver em Rt 3:3; Sl 23:5; Ec 9:8; Mt 6:17, onde se mostra ter sido comum o cuidado e embelezamento do cabelo, usando-se para isso ungüentos perfumados.
Os cabelos e a cultura cristã
O Novo Testamento vai doar importancia ao tema quando os apóstolos notaram a excessiva atenção prestada ao adorno do cabelo pelas mulheres do seu tempo, e censuraram essa atitude (1 Tm 2:9; 1 Pe 3:3) - proibição não era o fato, mas prioridades.
O cabelo servia também para demostrar aspectos da vida, tal como ao rapar a cabeça, temos um sinal de grande aflição e em alguns casos, de humilhação (Jó 1.20; Jr 7.29); mas pela mesma causa também se permitia que o cabelo crescesse, sem cuidarem dele.
Arrancar os cabelos com as mãos era demonstração de grande e repentino desgosto. Um dos sinais de lepra era uma mudança na cor do cabelo; por isso se mandava que fosse cortado, como sendo a sede da doença, assim como vemos em Lv 13:4,10; 14:8,9).
A frase em Ct 7.5, ‘a tua cabeleira é como a púrpura’, significa que estavam bem cuidados os anéis do cabelo. Já para o homem, somos levados a pensar que o cabelo poderia ser a coisa menos valiosa do homem (2 Sm 14:11; Mt 10:30) mas os árabes ainda hoje juram pelas suas barbas; e, talvez jurar pela cabeça signifique o juramento pelo cabelo que nela está (Mt 5.36).
Como os cabelos eram tratados nos tempos bíblicos?
A fim de embelezar o cabelo, recorria-se muitas vezes, aos pós; a guarda de Salomão, segundo conta Flávio Josefo, polvilhava com ouro as suas cabeças, que previamente haviam sido frisadas e perfumadas.
As classes superiores, entre os medos, usavam cabeleiras; mas, conservando os assírios os cabelos em compridos anéis, é duvidoso se estes eram formados dos próprios ou de falsos cabelos.
Os hebreus nunca usaram cabeleiras. A cor predileta era a preta, fazendo-se uso, algumas vezes, de diversos preparados colorastes, ou para dar mais brilho ao cabelo, ou para ocultar a idade.
A vaidade de homens e mulheres na Bíblia
As mulheres estão sempre procurando ajeitar melhor os cabelos, para melhorar sua aparência, e a maioria dos homens preferiria que as mulheres deixassem seus cabelos soltos e longos.
Heródoto afirmou que os homens egípcios “só deixavam crescer o cabelo e a barba quando de luto, e que, em todas as outras ocasiões, raspavam-nos”. Isso concorda com o trecho de Gênesis 41:14, onde vemos que José “barbeou-se” quando saiu da prisão para apresentar-se diante do Faraó.
Parece que os motivos dos egípcios eram alguma mania de higiene exagerada. Lemos que os sacerdotes egípcios mostravam-se fanáticos quanto a isso, raspando todo o pelo do corpo a cada três dias.
Até a cabeça das crianças era raspada, sendo deixados cachos ao redor da mesma, como decoração. Entretanto, as mulheres egípcias nunca raspavam os cabelos, nem mesmo quando de luto. Pelo menos os egípcios davam seu voto ao reconhecimento universal da beleza da cabeleira feminina.
Entre os Assírios e Babilônios temos indicações por meio das esculturas e as gravuras que os arqueólogos têm achado que os assírios e babilônios usavam cabelos longos, homens e mulheres. Heródoto também diz que esses povos usavam cabelos longos. Parece que eles usavam perucas para aumentar o volume dos cabelos.
Já os gregos e Romanos desde os tempos mais remotos, tanto homens quanto mulheres, usavam seus cabelos longos, exceto quando se lamentavam pelos mortos, quando os cabelos aparados eram um sinal de luto. Algumas vezes, os cabelos eram enrolados, formando um nó, ou então seguros com um espécie de alfinete grande.
Os escravos com frequência usavam cabelos curtos e um cidadão ateniense livre jamais haveria de imitar os escravos, usando cabelos curtos. As mulheres gregas usavam cabelos longos, embelezando-os com vários penteados e enfeites, incluindo joias e alfinetes de cabelo de muitos tipos.
Esses alfinetes eram feitos de ouro, de prata, de bronze, de marfim e até de pedras preciosas. Eram usados artifícios para tingir os cabelos, quando as damas se cansavam de ver seus cabelos da mesma cor todos os dias. Entre os romanos, havia paralelos desse costume.
Os homens romanos, tal como os gregos, nos tempos antigos usavam cabelos longos. Ter cabelos curtos era identificar-se com os escravos, que os usavam curtos. Porém, por volta de 300 a.C., esse costume sofreu mutações, quando apareceram os primeiros barbeiros, na Sicilia.
Cipião teria sido o primeiro cidadão romano a barbear-se todos os dias. As barbas ficavam em moda e saíam de moda. Por volta do século II d.C., o costume era cortar os cabelos bem curtos, segundo faziam os atletas e os filósofos estoicos.
Se atentarmos ao que Paulo diz, no décimo primeiro capítulo da sua primeira epístola aos Coríntios, é quase certo que tanto os gregos quanto os romanos dos seus dias costumavam usar os cabelos curtos, no caso de homens; pois, de outra sorte, suas declarações ali não fariam sentido. (Rm 11:14).
Para Paulo, a própria natureza ensina que os homens deveriam usar cabelos curtos, e que as mulheres deveriam usar cabelos longos. Essa declaração seria impossível de compreender se, em sua época, os costumes fossem consideravelmente diferentes disso.
Os cabelos para o homem hebreu
Os homens hebreus tinham grande respeito pela barba, imaginando toda a espécie de virtude para a mesma. Mas a calvície chegava a ser motivo de zombadas (2Rs 2:23). Os jovens de ambos os sexos usavam longos cabelos soltos (2Sm 14:26; Ct 5:11).
Os nazireus continuavam deixando seus cabelos longos (Nm 6:5). Mas parece que outros homens hebreus, quando atingiam a idade da responsabilidade, talvez aos 30 anos, costumavam cortar seus cabelos.
Naturalmente, temos o relato sobre Absalão, que continuou usando cabelos longos. E, se ele assim fazia, é razoável presumir que outros também o fizessem, mesmo que isso não fosse uma regra geral (2Sm 4:26).
Os cabelos para mulher hebreia e prosélitas
Na época de Paulo, de acordo com a primeira carta a Coríntios (11:14), o uso de cabelos curtos, por parte dos homens judeus, deve ter sido um costume universal, pois, de outra maneira, o que ele diz ali não teria o menor sentido.
Mas, as mulheres judias, tal como as mulheres de outras culturas, muito se esforçavam por embelezar seus cabelos (Is 3:24). Esse tipo de atividade ocorria até mesmo entre os cristãos, e Paulo achou por bem censurar o exagero (lTm 2:9), no que foi secundado por Pedro (1Pe 3:3).
Josefo nos informa que até mesmo homens davam-se ao trabalho de embelezar seus cabelos. O trecho de Ezequiel 44:20 parece dar a entender que, de vez em quando, os homens aparavam seus cabelos com uma navalha. Surgiram certos profissionais que cuidavam dos cabelos das pessoas, como os barbeiros e as cabeleireiras (Ez 5:1).
É pecado cortar o cabelo?
O corte do cabelo foi um tema tratado na Bíblia, mas sua significancia deve ser posta como cultural; vale pontuar que o evangelho seguia adentrando nas mais diversas culturas com seus usos e costumes. Na igreja Cristã Primitiva, Paulo é quem nos fornece as linhas mestras, quanto a esse particular, pois ele foi o apostolo dos gentios.
Era o costume de que as mulheres crentes usassem os cabelos longos, e os homens crentes, cabelos curtos, tal como vemos em (1Co 11). Paulo apelou para a natureza, como se esta nos desse esse tipo de instrução, e aqui ele quer evitar depender dos costumes sociais como diretrizes.
É importante que saibamos conpreender quando aspectos culturais são tratados bíblicamente. Visto que o costume social da época ditava que as mulheres honestas deviam usar cabelos longos, somente as prostitutas ou, talvez, as que se lamentassem por seus mortos contradiziam a regra geral - fica mais fácil ainda lidar com o tema.
Nesse trecho paulino, não há como justificar cabelos curtos para as mulheres crentes. Se insistirmos que é correto que as mulheres cortem seus cabelos, então teremos de afirmar que o que Paulo ensinou sofria a influência dos costumes sociais de sua época, pelo que não seria aplicável aos nossos dias.
Outro tanto deve ser dito a respeito do uso do véu, pelas mulheres crentes. Contudo, que cada crente resolva a questão segundo a formação de sua consciência. Todavia, a questão não tem tanta importância assim, ainda que consideremos que essa instrução paulina seja obrigatória para todos os crentes.
Uso simbólico do cabelo na Bíblia
Os cabelos simbolizam a virilidade e a fertilidade. Em um sonho ou visão, os cabelos podem ter esse significado. Além disso, os cabelos são um símbolo natural da beleza feminina.
No entanto, os cabelos de uma pessoa podem ser cortados sem que ela sofra muito com isso. Isso posto, os cabelos também simbolizam aquilo que tem pouco valor para uma pessoa (ISm 14:45; 1Rs 1:52; Mt 10:30).
Podemos entender muitas coisas, através das metáforas que usam os cabelos (Sl 40:12; 69:4), como uma distância minúscula (Jz 20:16); os cabelos grisalhos dão a ideia de honra ou autoridade (Pv 16:31; Ap 1:14), ou então decadência física e desintegração (Os 7:9).
Cobrir a barba ou o rosto, de baixo até ao nariz, é sinal de lamentação (Lv 13:45), ou então de tribulação e vergonha (Mq 3:7; Ez 24:17). O fato de que nossos cabelos estão todos contados na mente divina ilustra o valor da alma humana para o nosso Deus (Mt 10:30). O ato de arrancar os cabelos significa consternação e tristeza (Is 15:2).
Signficado de Rapar o cabelo na Bíblia
Raspar os cabelos, por sua vez, indica humilhação, punição, desgraça. As ordens monásticas cristãs cortam os cabelos em sinal de iniciação.
Os ascetas e eremitas hindus encontram alguma significação no arranjo ou desarranjo dos cabelos como símbolo de seu ascetismo.
Entre os hindus, algumas vezes eles cortam os cabelos e oferecem-nos a alguma divindade, como um sacrifício ou símbolo do sacrifício do corpo inteiro, na busca pelas realidades espirituais.
Na Grécia antiga, os cabelos eram oferecidos pelos jovens, aos deuses, em seus ritos de iniciação.