Como resultado dos trabalhos de Paulo e de Apolo foi formada em Corinto uma numerosa e florescente igreja - e doutrinadores eram ali colocados para instruir os convertidos, sendo regularmente observados os preceitos cristãos. Todavia, não muito depois, foi perturbada a paz desta igreja por certas pessoas que procuravam enxertar naquele ramo do Cristianismo os refinamentos da filosofia humana. Esses indivíduos tentaram depreciar o Apóstolo, descrevendo-o como pregador sem estilo e sem arte oratória, e pondo mesmo em dúvida a sua autoridade apostólica. Além disso, defendiam a vida licenciosa de cada um, sob pretexto de liberdade cristã. Destes ensinamentos resultaram divisões e irregularidade, não tardando que a igreja decaísse do seu primitivo estado de fé e amor. o estado dos cristãos de Corinto muito se assemelhava, de fato, ao daqueles que em todos os tempos abandonam os erros e baixezas do paganismo. Com efeito, a santidade da vida cristã trabalha dentro deles, mas duros conflitos surgem entre a verdade do novo caminho e os inveterados males. Era esta a situação da igreja de Corinto, que Paulo procurou melhorar nas duas epístolas que dirigiu aos coríntios. A primeira epístola foi escrita de Éfeso, não muito depois de ter S. Paulo saído de Corinto. A DATA em que foi escrita deve ter sido o ano 57. Embora esta epístola seja denominada a primeira aos Corintios, evidentemente outra a precedeu, que não chegou aos nossos dias, mas à qual se faz referência em 5.9. Essa primeira carta, ou se cruzou com alguma dos coríntios, ou estes, depois de recebida a de Paulo, lhe escreveram, pedindo os seus conselhos e instruções sobre alguns pontos (7.1). o fim da epístola foi corrigir os males que prevaleciam entre os cristãos de Corinto, e de que o Apóstolo fora informado por alguns dos seus membros (1.11 - 5.1 - 11.18). Causou-lhe tão grande cuidado aquele espírito de desordem, que ele deliberou mandar a Corinto o seu discípulo Timóteo (4.1l - At 19.22). os males que Paulo procurou corrigir eram os seguintes: divisão entre eles por espírito de partido - inclinação pela chamada filosofia - a imoralidade - os recursos aos tribunais gentílicos - a imodéstia feminina - o tornar a ceia do Senhor uma ocasião de jovialidades - o abuso do dom de línguas - e negar a Ressurreição de Jesus Cristo. os pontos acerca dos quais tinham sido pedidas instruções, eram: o casamento, a circuncisão e a escravidão - a comida de carnes oferecidas em sacrifício aos ídolos - e as coletas para os santos de Jerusalém. E, à medida que vai expondo a boa doutrina, não deixa de instruir os crentes sobre a aplicação dos mais altos princípios a todas a particularidades da vida pessoal ou da igreja. os tópicos especiais da primeira epístola são: o evangelho como sabedoria de Deus (1 a 3) - a supremacia do amor (13) - e a doutrina da ressurreição (15). Em nenhuma epístola do Apóstolo se manifesta o seu próprio caráter de um modo mais brilhante do que nesta. A afirmação da sua autoridade apostólica é belamente apresentada com humildade e piedosa desconfiança de si mesmo (2.3 - e 9.16, 27). Ele combina a fidelidade com a mais alta ternura (3.2 - 4.14 - 6.12), e quaisquer que sejam os seus dons, ele a todos prefere o amor (13.1). A segunda epístola. Paulo partiu de Éfeso não muito depois de ter escrito a primeira epístola, e foi para Trôade. Aqui ele esperava encontrar Tito (que havia mandado a Corinto), para informar-se do estado da igreja e do efeito produzido pela sua primeira carta. Mas não o achando aí, dirigiu-se para a Macedônia, onde a sua ansiedade foi aliviada com a chegada de Tito. Por este evangelista soube Paulo que as suas leais repreensões tinham despertado na alma dos cristãos de Corinto uma piedosa tristeza, levando-os a considerar proficuamente a boa disciplina da igreja. Mas, infelizmente, haviam-se manifestado sintomas de outra espécie. o partido, que tinha a orientação dos falsos mestres, estava ainda deprimindo a autoridade apostólica de Paulo e desvirtuando as suas intenções e conduta: faziam uso da primeira carta do Apóstolo para levantar novas acusações contra ele, pois afirmavam que não tinha cumprido a promessa de voltar a Corinto, e havia adotado uma maneira de escrever muito autoritária, não concordando esse procedimento com a forma desprezável da sua pessoa e do seu modo de falar. Em conseqüência disto escreveu o Apóstolo a segunda epístola com o fim de prosseguir na obra de reforma, firmar ainda mais a sua autoridade contra os falsos doutores, e preparar os coríntios para sua desejada visita, que havia de realizar-se quando tudo estivesse em ordem e preparadas as prometidas contribuições para os seus irmãos necessitados. Em nenhuma parte foi o próprio coração de Paulo mais sensivelmente posto a descoberto do que nesta epístola. A linguagem de recomendação, de amor e de reconhecimento acha-se confundida com palavras de censura, indignação e desgosto. o principal objetivo da epístola foi animar e tranqüilizar a parte mais sã dos membros da igreja, de defendê-los contra as tentativas dos falsos mestres para os desviarem do verdadeiro caminho evangélico. Paulo estabelece a sua autoridade apostólica e aduz, como credencial da sua missão, os seus trabalhos, sofrimentos, perigos e revelações divinas. Que esta epístola produziu, em geral, bom efeito, podemos inferi-lo da corrente de tranqüilidade que perpassa pela epistola aos Romanos, escrita de Corinto alguns meses depois, não tendo nós nenhuma informação em contrário. Para conhecimento de muitos pormenores da vida do Apóstolo, é esta epístola a nossa única fonte de informações.